segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A roda da evolução

PUBLICADO . EM MOBILIDADE

63356335Carlos Alexandre
A imagem de milhares de ciclistas abrindo passagem pelas extensas e largas avenidas de Brasília, no último domingo, ilustra um patrimônio que deve ser valorizado e preservado por aqueles que prezam a civilidade nas pistas. Em uma cidade projetada para automóveis, o passeio que reuniu 3,5 mil pessoas surge como importante contraponto ao império das máquinas.
A capital federal acumula mais 1,3 milhão de veículos, custa a reformar o sistema de ônibus e há anos convive com um metrô insuficiente. Nada mais inteligente, pois, do que buscar alternativas mais baratas e menos poluentes para assegurar o direito à mobilidade urbana.
A inteligência dos grupos que defendem o uso cotidiano da bicicleta esbarra, entretanto, na irracionalidade das pistas e no desequilíbrio das políticas públicas. As associações de ciclistas colecionam relatos sobre a violência cometida por aqueles que matam a civilidade com uma tonelada de metal sobre quatro pneus. Mais do que dividir espaço com carros, ônibus e outros veículos motorizados, os cidadãos do pedal clamam por respeito à vida. É igualmente gritante o contraste entre as magras ciclovias desenhadas pela capital com os colossais incentivos à compra de carros, à ampliação de viadutos, à construção de vias expressas, à ditadura dos motores.
Evidentemente, a evolução no trânsito só será completa no momento em que a cultura das bicicletas se consolidar no cotidiano do Distrito Federal. O Estado tem um papel fundamental nesse desafio, pois reúne condições de oferecer grandes aportes de recursos em infraestrutura. Mas nada impede que escolas, empresas, restaurantes ou centros comerciais tenham iniciativa para atender o brasiliense que deixou o carro na garagem. Parcerias público-privadas permitiriam, por exemplo, a criação de pontos de apoio para os ciclistas se lavarem após o percurso. A disseminação do aluguel de bicicletas, tão comum nas principais capitais do mundo, pode trazer novo fôlego ao turismo e ao lazer do brasiliense. Outra ideia a merecer debate é uma iluminação pública própria para ciclovias.
Uma política consciente em favor das bicicletas pode representar um segundo passo memorável para Brasília se destacar como modelo evolutivo no trânsito. Dezesseis anos após o nascimento das faixas de pedestres, a capital federal tem a chance de estabelecer novo patamar nas cidades brasileiras. O passeio ciclístico do último domingo mostrou de forma inequívoca que há muita gente disposta a dar esse pedal.

Fonte: Correio Brasiliense / Planejamento Gov.

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